Joseph Ghanime
Confesso-me caprichoso como um adolescente e refugado do futuro como um velho – um combinado do piorzinho de todas as idades.
Será por isso que não me afago com os cartões de crédito e permaneço na saudosa caderneta de aforro?
A falta de profissionalismo na gestão da própria vida tem essas desvantagens: continuas com as botas desamarradas, as mãos a limpar os mucos e as idas à Caixa todas as semanas.
Bem sei que a Caixa Galicia já não é tal, mas Banco da Nova Galáxia ou algo do género. O nome da Cousa importa-me bem pouco, mas reconheço que o de Nova sim me indigna. Sempre assumi o de ir à Caixa como um ritual para cultivar a velhice de espírito. A ideia de novidade interpõe-se perigosamente no meu hábito.
Mas continuo a frequentar várias sucursais luguesas da entidade, apesar daquilo que um empregado me dixo um dia: “Home, para levar 100 euros não fai falta que venhas por aqui, podes usar o caixeiro”.
Mas eu vinha por aqui para que não te trocassem por uma máquina.
Agora aquele empregado sumiu. Quero dizer, foi-se, de forma permanente, e não o vim mais. Pois de forma temporária vão sumindo todos os trabalhadores da Caixa. De súbito abandonam o balcão e partem para algum rocho por trás de uns painéis cinzentos. E depois aparecem novamente, quando a lotação do local é quase insuportável.
As demoras de 40 minutos amenizam-se com esses Ritmos da Caixa:
– é necessário que uma bancária de saltos altos atravesse a sucursal nalguma missão importante;
– fai falta que o número de clientes que vestimos fato de treino, ténis e cara mal barbeada seja superior ao doutras entidades financeiras;
– cumpre, enfim, que o jovem diretor de fato e gravata abra a porta de um escritório de vidro, para censurar por contraste a falta de empreendedorismo dos que ali esperamos.
Essa onda rítmica da Caixa cria boas condições para a saudade, o convívio entre as pessoas e a promoção da leitura. Em tempos de crise, a nova obra social do novo banco deveria programar novas conferências e concertos para elevar o nível cultural dos novos galegos nesses novos intres de lazer.
Desinformado usuário de cartão de crédito, ouve-me: nem imaginas o que se consegue ler entre o número 30 e o 72 da máquina de pedir turno na Caixa – tanto, que agora, quando vou à biblioteca pública, escolho os livros com alguma sucursal da Caixa em mente.
O Fugas da Alice Munro foi-me bem na sucursal da Fonte dos Ranchos, pois o local convida a partir de Lugo para o monte Picato por aquela estrada afora; Lois Pereiro é para ser lido na sucursal da avenida Ramón Ferreiro, a ver se trocam de uma vez o nome do franquista polo do poeta; e na Central, intramuros, aí apenas serve a obra de algum obscuro escritor da Europa do Leste, commuitas consoantes no nome, como Ferdydurke, de Witold Grombrowicz.
E dade por certo que em todas essas sucursais, pautando com rigor o ritmo da espera, e mui apesar da crise, e como indica o regulamento:
há sempre um extintor pronto para usar.